No entanto, a pior discriminação que um indígena (sofre duas vezes) é aquela cometida por parentes indígenas que a pretexto de manter uma tradição cultural a meu ver machista, que não mais existe no nosso meio, discriminam toda manifestação, opinião ou atos políticos das mulheres indígenas.
E ainda fica pior quando algumas lideranças indígenas (homens) fazem seus discursos machistas tentando influenciá-las.
Penso que essas lideranças morrem de medo de se sentirem inferiores diante de uma mulher ou também pode ser medo de perder suas benesses de alguns políticos não indígenas para os quais fazem suas eternas campanhas, na esperança de conseguirem algum beneficio.
Sem informações e consciência estas mulheres acabam aceitando esta discriminação, com isto ajudam a manter este crime, que deveria ser considerado punido com leis mais severas até entre índios, afinal o índio, é também um cidadão brasileiro.
Digo isso, porque recentemente conversando com uma índia bastante conhecida no Estado do Amazonas, ela me revelou que muitas mulheres indígenas nas eleições de 2010, estavam inclinadas em apoiar e votar em meu nome como candidata a deputada estadual, até porque era a primeira candidata indígena que se lançava a uma disputa estadual, mas quando alguns caciques souberam que as mulheres indígenas de suas aldeias poderiam votar em uma mulher também indígena para representá-las no Parlamento Estadual, passaram a fazer discursos defendendo os 02 candidatos índios que também disputavam esta eleição e até candidatos e candidatas não índias (brancas), que receberam muitos votos de homens e mulheres indígenas.
Nunca tive disposição nem pretensões políticas em disputar qualquer cargo político, apesar de meu companheiro ter envolvimentos políticos, tendo sido até ex-assessor político de um governador do Amazonas, no entanto as discriminações, as perseguições e o descaso não somente com a população indígena mais, contra todos aqueles, que não tem oportunidade e principalmente por presenciar a discriminação de certas lideranças indígenas, quando dizem que não existem mulheres indígenas com capacidade para pleitear cargos no governo, me influenciaram a tomar uma decisão.
Após diversas conversas com algumas pessoas, decidimos que era chegada a hora de mostrar que nós mulheres indígenas temos também, capacidade para disputar qualquer cargo eletivo, como também em exercer qualquer outro cargo no âmbito dos governos: municipal, estadual e federal, o que nos faltava era a determinação para enfrentar de cabeça erguida, mesmo não tendo as mesmas condições e recursos necessários para participar de uma campanha política, em um estado, onde a política é comandada pelos caciques (brancos) da política partidária, com o objetivo de manter uma casta de ranços oligárquicos.
Resolvi então quebrar este tabu e ser a primeira candidata indígena no Estado do Amazonas após esta decisão, surgiu á primeira discriminação, de onde não se esperava, por parte de alguns parentes indígenas que estavam acostumados a votarem somente em homens brancos e índios, para ser seus representantes no Parlamento estadual e ficaram surpresos com esta candidatura e não fizeram nenhuma manifestação favorável.
Depois a discriminação covarde em minha própria coligação que não deixaram sequer que meu nome fosse citado na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV.
Como sou persistente, nada disso me desanimou e percebendo que estava recebendo pouco apoio dos candidatos majoritários ao governo senado e deputados federais, resolvi visitar algumas aldeias, levando a bandeira de duas mulheres candidatas: a minha de deputada estadual e a da Presidenta Dilma e terminei a campanha na internet, onde apresentei os meus planos e projetos de ação parlamentar em prol do desenvolvimento sustentável.
Tanto a minha candidatura quanto a eleição de Dilma Rousseff, para Presidente do Brasil, quebraram dois tabus, a primeira de que a mulher indígena só tinha competência para fazer farinha e artesanato e a segunda que nunca na história deste país uma mulher poderia tirar dos homens a primazia em governar o Brasil.
Espero que a Presidenta Dilma possa quebrar outros tabus existentes ainda atualmente no governo do Brasil. Leia artigos de Regina Silva no Jornal de Debates.

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